Mulher Operacional

Mulher Operacional é a mulher que possui o perfil e as competências de Inteligência Operacional, cuja doutrina foi desenvolvida por André Soares, visando à formação das Agentes Operacionais, que nada mais são que as mulheres agentes secretos.

Por maximizar as potencialidades femininas, o perfil da Mulher Operacional representa o ápice do aperfeiçoamento da feminilidade e da liderança, constituindo aprendizado inestimável para as mulheres bem-sucedidas, que pretendam o sucesso em suas vidas pessoal, familiar e profissional.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Entrevista de André Soares, Diretor-presidente de Inteligência Operacional, ao portal Panorama Mercantil

 

“Genuínos líderes não lideram apenas por liderar”
André Soares – Diretor-presidente de Inteligência Operacional e especialista em Inteligência de Estado

André Soares

André Soares é Diretor-presidente de Inteligência Operacional, especialista em Inteligência de Estado e realizou os principais cursos de Inteligência do Centro de Inteligência do Exército (CIE) e da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). É Tenente-Coronel do Exército Brasileiro e Mestre em Operações Militares. É autor dos livros: “Ex-Agente abre a caixa-preta da ABIN”, “Serviços Secretos – Aspectos do emprego das operações sigilosas no Estado Democrático de Direito”, “A Tríade da Inteligência”, “Inteligência Operacional – Filosofia da vida real”, “Entrevista Operacional – A Entrevista da vida real”, “Liderança Operacional – A liderança dos Agentes Secretos”, “SOS – INTELIGÊNCIA NACIONAL – A verdade sobre os serviços secretos brasileiros” e “MULHER OPERACIONAL – O perfil da mulher Agente Secreto. É criador da Revista Inteligência Operacional e criador do projeto INTELIGÊNCIA & CIDADANIA, de natureza cívico-social, em âmbito nacional e sem fins lucrativos, destinado a levar à sociedade brasileira conhecimentos fundamentais sobre a Inteligência de Estado no Brasil, necessários ao pleno exercício da cidadania, no contexto do Estado Democrático de Direito. Em seu livro “Ex-Agente abre a caixa-preta da ABIN”, traz a público o que a sociedade tem direito de saber há muito: como funciona nossa arapongagem oficial, sobretudo quando o Brasil mais precisa da sua inteligência operacional.


Qual seria o real poder da ABIN hoje?

Equivocadamente, a sociedade brasileira imagina que o presidente da República recebe diariamente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) as mais sensíveis, sigilosas e privilegiadas informações de Estado, sob todos os aspectos, relativas à conjuntura nacional e internacional; e que, consequentemente, o chefe do poder Executivo Federal é a autoridade mais bem informada que existe no país; e portanto o Brasil está devidamente protegido contra adversidades e inimigos.
Deveria ser assim. Mas não é. Visto que, no que tange aos seus serviços secretos, o Brasil vive o pior dos mundos. Isso porque a ABIN, que é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), é um serviço de inteligência cuja ineficiência institucional além de ser escabrosa é também criminosa, a exemplo dos teratológicos crimes perpetrados pela agência contra o Estado na Operação Satiagraha (2008), que foram condenados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2011, e em última instância pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2015; a respeito dos quais o Exmo. Sr. Ministro Adilson Vieira Macabu manifestou-se literalmente: “Jamais presenciei, eminentes Ministros, ao defrontar-me com um processo, tamanho descalabro e desrespeito a normas constitucionais intransponíveis e a preceitos legais” (Habeas Corpus 149.250 – SP).
Outra verdade estarrecedora sobre a ABIN que a sociedade brasileira desconhece é que qualquer pessoa alfabetizada, que diariamente leia um bom jornal, assista aos noticiários e acesse a internet, está melhor informada que a agência. Porque a esmagadora maioria do conteúdo de todos os relatórios da ABIN que chegam ao presidente da República é extraída literalmente das chamadas fontes abertas, e principalmente da internet. Portanto, é mera reprodução disfarçada do que já foi veiculado na mídia nacional e internacional.
Portanto, a verdade proibida sobre a ABIN é que a agência é um serviço de inteligência ingentemente disfuncional, que está absolutamente fora do controle do Estado brasileiro; sendo ainda de todo temerário que qualquer autoridade governamental, e especialmente o presidente da República, tome qualquer decisão de Estado com base em suas informações.


Como avalia a ABIN se compararmos com outras agências de outras partes do mundo?

É importante frisar que se os governantes e a sociedade brasileira desconhecem a ingente disfuncionalidade da ABIN; por outro lado, os serviços secretos estrangeiros sabem disso sobejamente. É por essa razão que a ABIN goza de péssima reputação no âmbito da comunidade internacional de inteligência, principalmente junto aos serviços secretos dos países desenvolvidos, que sabem que não podem contar com a agência.
Por agravante, é crucial alertar a sociedade que esses mesmos serviços secretos estrangeiros comemoram a ingente ineficiência da ABIN. Pois lhes possibilita espionar livremente o Brasil, bem como realizar outras ações criminosas contra o país.
Portanto, outra verdade estarrecedora decorrente da assombrosa disfuncionalidade da ABIN é que o Brasil está completamente vulnerável e à mercê da espionagem internacional, que é patrocinada permanentemente em todo o território brasileiro por serviços secretos de vários países, ferindo de morte a soberania e a segurança nacional.


O que pode acabar com o personalismo e com os interesses escusos de governantes na agência?

Sobre essa questão importa esclarecer que, ao contrário do que se imagina, a causa determinante da corrupção e desvirtuamento dos serviços secretos, tanto no Brasil como no mundo, não é a ação do personalismo e dos interesses escusos dos governantes sobre eles. Porquanto a despeito das graves consequências nacionais decorrentes dessa contingência, por outro lado é inexorável que os núcleos do poder estatal sejam assediados pelos governantes corruptos, no qual os serviços secretos são sua maximização inconteste.
Significa que os serviços secretos, por sua natureza e peculiaridades, são indubitavelmente as instituições do Estado potencialmente mais suscetíveis e mais corruptíveis, não apenas ao personalismo e interesses escusos dos governantes, como também a todo tipo de criminalidade.
É por essa razão e pelo gravíssimo risco à segurança nacional que consiste a criação de serviços secretos desvirtuados e disfuncionais, como no Brasil, que o Coronel Walter Nicolai (1873/1934), chefe do serviço de inteligência do chanceler Bismark, vaticinou ao mundo um dos mais célebres e universais ensinamentos cultuados na Inteligência de Estado, quando alertou: “A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona”.
Destarte, o Coronel Walter Nicolai e a história da inteligência mundial sabiamente ensinam à humanidade que a Inteligência de Estado tem uma característica peculiar que a diferencia primordialmente das demais instituições: somente pode ser confiada às pessoas “nobres de caráter”, o qual dever ser absolutamente irrepreensível e incorruptível, sob todos os aspectos. Caso contrário, o seu “desmoronamento” pela corrupção e degenerescência institucional, perpetrando crimes hediondos contra o próprio Estado, será inevitável e mera questão de tempo; como historicamente acontece no Brasil, até os dias atuais.
Consequentemente, a única solução para se combater a ação do personalismo e os interesses escusos de governantes, bem como a ação de toda a criminalidade sobre os serviços secretos, tanto no Brasil como no mundo, é criá-los e constituí-los exclusivamente com capital humano “nobre de caráter”, que não permitirá e não hesitará em denunciar prontamente quaisquer ilicitudes; o que absolutamente nunca existiu na história da Inteligência de Estado no Brasil.
Portanto, como é cediço na inteligência mundial, a única solução para se extirpar o histórico e irreversível desvirtuamento da inteligência no Brasil é a urgente e completa extinção da ABIN, que é o órgão central do SISBIN; tal qual se fez necessário quando da extinção do Serviço Nacional de Informações (SNI), em 1990, que era o órgão central do Sistema Nacional de Informações (SISNI); seguida pela edificação no país de uma nova e eficiente Inteligência de Estado, que seja desta vez definitivamente confiada apenas e tão somente às pessoas “nobres de caráter”, e que seja regida impiedosamente sob a égide da doutrina da “Tríade da Inteligência”.


Todo Estado precisa de um serviço de inteligência eficiente. Que pontos são fundamentais para que essa eficiência se realize de fato?

No caso do Brasil, é crucial se conhecer a trágica história da sua Inteligência de Estado, para não se reincidir nos mesmos erros do passado. Porque primeiramente os governos militares “pecaram” quando da criação do famigerado SNI, em 1964; que, por sua “monstruosidade”, foi extinto em 1990. Posteriormente, os governos civis reincidiram no mesmo “pecado mortal” dos militares quando da criação da suscedânea “herdeira” do SNI, a ABIN, pela lei 9883, de 07 de dezembro de 1999.
Portanto, para a edificação de uma Inteligência de Estado eficiente no Brasil, preliminarmente é imperioso que seja extirpado definitivamente do país todo o legado histórico dessa mentalidade “pecaminosa” e “cancerígena”, que vem governando os serviços secretos brasileiros e vitimando de morte o Estado Democrático de Direito, há mais de meio século. E isso deve ser feito não apenas com a urgente e completa extinção da ABIN, mas concomitantemente com o rigoroso julgamento dos dirigentes responsáveis pelos ilícitos da agência, a exemplo da “Operação Satiagraha” (2008).
Somente a partir de então é que serão restabelecidas no Brasil as condições mínimas de segurança jurídica e democrática do Estado de Direito que propiciarão o alvorecer de uma nova e eficiente Inteligência de Estado, a qual deve ser regida impiedosamente sob a égide da doutrina da “Tríade da Inteligência”, cujos pilares fundamentais são o Sigilo, a Legalidade e a Ética; conferindo assim à Inteligência de Estado, identidade, legitimidade, controle e, consequentemente, máxima eficiência.
No contexto da “Tríade da Inteligência”, o Sigilo é a única e verdadeira atividade-fim da Inteligência de Estado, constituindo-se na sua natureza, identidade e razão de ser.
A Legalidade é o pilar da “Tríade da Inteligência” que confere legitimidade à Inteligência de Estado, sem o que se transforma em ameaça ao próprio Estado e à sociedade.
A Ética é o derradeiro pilar da “Tríade da Inteligência”. Sem ela, a Inteligência de Estado, inescapavelmente, cairá para a ilegalidade e o descontrole.
Nesse sentido, nos Estados Democráticos é imperativa a adoção pelos serviços de inteligência de um Código de Ética próprio para o emprego da Inteligência de Estado, como rigorosa norma de conduta e comportamento de seus quadros.
Por oportuno, cabe ressaltar também que a ABIN, órgão central do SISBIN, não possui um código de ética próprio para a atividade de Inteligência no Brasil.


É possível surgir um “Vladimiro Montesinos à brasileira” nesse cenário?

Muito pior. O atual colapso dos serviços secretos no Brasil é muito mais gravoso que a crise ocorrida no Peru, durante o governo do presidente Alberto Fujimori (1990/2000), período em que o chefe todo-poderoso da inteligência peruana (SIN) Vladimiro Montesinos empregou os serviços secretos do país na perpetração de crimes de lesa pátria. Isso porque a pronta reação da sociedade peruana levou à Justiça, condenou há décadas de prisão, e já estão presas todas as autoridades responsáveis por esses crimes, a começar pelo ex-presidente Alberto Fujimori e Vladimiro Montesinos.
Já na atual crise da inteligência no Brasil, a degenerescência dos seus serviços secretos atingiu níveis de gravidade institucionais alarmantes e sem precedentes, comprometendo a normalidade democrática e ferindo de morte o Estado de Direito. Isso porque, diferentemente do Peru no qual os crimes cometidos por seus serviços de inteligência foram devidamente apurados e seus governantes e dirigentes rigorosamente punidos pela Justiça; no Brasil, os dirigentes de inteligência responsáveis pelos crimes cometidos contra o Estado, a exemplo dos ilícitos da ABIN na “Operação Satiagraha” (2008), não foram sequer denunciados à Justiça brasileira, abençoados em absoluta impunidade.
Esse “assassinato” do Estado Democrático de Direito no Brasil não acontece por mero acaso; mas sim porque a verdade mais que estarrecedora é que os serviços secretos brasileiros são governados pela organização criminosa mais poderosa do país, que está completamente acima da lei, e que nenhum poder da República, instituição, força-tarefa, ou governante, é capaz de enfrentar. E, para desespero derradeiro da nação brasileira, as mais insignes instituições nacionais são reféns e estão irremediavelmente dominadas por essa organização criminosa, com apenas uma única e honrosa exceção: a Suprema Corte do país (STF).
Chega-se assim à apoteose do colapso político e de corrupção institucionalizada da atual conjuntura no Brasil. Porque é exclusivamente a criminalidade organizada que governa os serviços secretos no Brasil a causa determinante da gigantesca crise de corrupção sistêmica e generalizada que vitima o Estado brasileiro. Afinal, caso o Brasil não tivesse serviços secretos escabrosamente desvirtuados e disfuncionais, bem como se tivesse uma Inteligência de Estado que fosse minimamente eficiente, indubitavelmente o país estaria devidamente protegido por um “sistema imunológico” que teria cumprido seu papel institucional, identificando e combatendo satisfatoriamente as graves contingências que vem vitimando a nação brasileira de longa data, como por exemplo os hediondos crimes do “Mensalão” e do “Petrolão”; e certamente o Brasil não estaria imerso em todo esse caos.
Portanto, resta cristalino que a urgente e completa extinção da ABIN e o julgamento exemplar dos dirigentes responsáveis pelos ilícios da agência constituem, acima de tudo no Brasil, um duplo imperativo: do Estado Democrático de Direito, e da segurança nacional. Contudo, também resta evidente não haver no país instituições republicanas capazes de cumprir esse desiderato, nem governantes dotados das virtudes estadistas essenciais para esse mister: coragem e expertise.
Assim, o inescapável cenário prospectivo do Brasil é de “metástase terminal” quanto à submissão e subserviência do Estado e da sociedade brasileira ao crime organizado que impera absoluto acima da lei no país, governando a inquebrantável caixa-preta dos seus serviços secretos, e demandando o irreversível colapso de corrupção sistêmica e generalizada da República Federativa do Brasil.


Em suas palavras, a ABIN deve ser extirpada urgentemente. O senhor já temeu em algum momento por dar declarações como essa?

Sim. E temo permanentemente. Porque há mais de 15 anos sou vítima de ameaças de morte e perseguições de todo tipo, patrocinadas pelos serviços secretos no Brasil; tendo sido ameaçado de morte pessoalmente pelo Diretor de Contraespionagem da ABIN, na sede da agência central, em Brasília/DF, em 2004; por ter me recusado a participar juntamente com ele das clandestinidades da ABIN na “Operação Mídia”; que eu denunciei diretamente no Palácio do Planalto e pessoalmente à Presidência da República, no Governo Lula; e que revelei detalhadamente e documentalmente em meu livro “Ex-agente abre a caixa-preta da ABIN”.
Desde então estou jurado de morte e sou alvo permanentemente caçado pelas operações clandestinas sistemáticas que estão instauradas nos serviços secretos brasileiros contra mim. Nesse sentido, já me foi sugerido participar do denominado “programa de proteção a testemunhas”.

O livro
ABIN: O autor do livro “Ex-Agente abre a caixa-preta da ABIN” (Foto: Divulgação)


Vamos falar um pouco sobre Inteligência Operacional. É possível detectar quem é a “eminência parda” do país na atualidade?

No contexto da Inteligência Operacional, “eminência parda” tem sentido figurado e em síntese significa aquele que é o “líder do líder”. Contudo, liderar um líder é tarefa dificílima, que somente uma pessoa que seja uma “eminência” é capaz de fazer. E isso representa enorme poder. Porque imagine o poder de alguém que tem a capacidade de influenciar um líder! Pois, a “eminência parda” tem esse poder.
Todavia, é importante entender o que diferencia o líder da “eminência parda”: a estratégia. Porque, na verdade, ambos são líderes. Só que o líder tem a notoriedade, sendo conhecido de todos – mas a “eminência parda” não. É por isso que ela é “parda”, porque não aparece, não é conhecida por ninguém, apenas pelo líder; pois a principal estratégia da “eminência parda” é o sigilo.
Portanto, se a identificação de uma “eminência parda” é naturalmente difícil, no caso brasileiro há ainda uma dificuldade agravante: a enorme escassez de lideranças autênticas. Ou seja, mesmo que eventualmente haja alguma “eminência parda” no país, ela terá enorme dificuldade em identificar um verdadeiro líder para ser liderado por ela.
Nesse sentido, principalmente pela efervescência do pleito eleitoral presidencial deste ano (2018), é importante não confundir lideranças autênticas com a legião de personalidades que são evidenciadas midiaticamente no cenário nacional como se fossem. Pois, em que pese a eventualidade de terem excelência em suas respectivas áreas de atuação, o Brasil continua sofrendo gravemente da carência de lideranças legítimas.
Portanto, para se detectar alguma “eminência parda” no país na atualidade é necessário preliminarmente se identificar a existência de alguma liderança autêntica.


Em quanto tempo se estrutura a Inteligência de um Estado?

A estruturação da Inteligência de Estado é um projeto estratégico nacional que demanda gerações para se concretizar e se consolidar eficientemente num país. Contudo, a boa notícia aos brasileiros é que, ao contrário do que todos pensam, a estruturação organizacional da Inteligência de Estado é simples. Pois é absolutamente idêntica à de qualquer outra instituição.
A única diferença, na qual reside toda a sua problemática e complexidade, resume-se exclusivamente ao seu setor operacional, referente especificamente ao contexto de atuação dos agentes secretos, que é a razão de ser desses organismos, sendo consequentemente o seu segmento mais sigiloso. Portanto, a responsabilização dessa estruturação operacional deve recair e ser atribuída somente a profissionais “nobres de caráter” e com inquestionável experiência e expertise em Inteligência Operacional.
Aqui se desponta mais uma péssima notícia no caso do Brasil. Porque no contexto do colapso generalizado dos seus serviços secretos e do desvirtuamento dos seus quadros, que vem sendo perpetrado progressivamente no país desde o SNI; o país se tornou vítima de um óbice dramático e intransponível: a inexistência de dirigentes “nobres de caráter” e com experiência e expertise em Inteligência Operacional; bem como também a inexistência de capital humano “nobre de caráter” devidamente qualificado para integrar os quadros da Inteligência de Estado no Brasil.
Portanto, após a urgente e completa extinção da ABIN, o Brasil deverá formar e qualificar massa crítica de recursos humanos “nobres de caráter” na expertise de Inteligência Operacional, para liderar e integrar os quadros dos futuros e eficientes serviços secretos brasileiros.
Mãos à obra!


Quais são os principais pilares para essa estruturação?

Os dois principais pilares da estruturação da Inteligência de Estado são: a concepção doutrinária, e a formação e qualificação do capital humano. Em ambos os aspectos a situação no Brasil é lastimável.
Primeiramente porque, quanto à concepção doutrinária, não existe doutrina oficial de Inteligência de Estado na ABIN. É isso mesmo! Pasmem novamente porque a suposta doutrina de inteligência da ABIN, que os presidentes da República e a sociedade acreditam existir na agência, na verdade é um engodo colossal, que está denunciado inclusive documentalmente em meu livro “Ex-agente abre a caixa-preta da ABIN”.
Por agravante, quando todo o mundo democrático rege seus serviços secretos pela doutrina da “Tríade da Inteligência”; no Brasil, a criminalidade organizada dos serviços secretos perpetua sua ditadura criminosa no país pela desinformação e manipulação da sociedade, por meio da proibição sumária da adoção da “Tríade da Inteligência”, não apenas em todo o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), como também nos estabelecimentos de ensino institucionais e privados do país.
Consequentemente, após mais de meio século da agressiva “lavagem cerebral” a que está submetido o público interno dos serviços secretos brasileiros, bem como da massiva desinformação da qual a sociedade é vítima; a formação e qualificação do capital humano que atua na inteligência em todo o país estão irreversivelmente desvirtuadas, e a sociedade brasileira foi transformada em “nação-zumbi”; todos a serviço dessa supremacia criminosa.


O senhor já falou em seus textos que vivemos uma pseudo “epidemia” de liderança. Como detectar líderes genuínos?

O Brasil, em especial, vivencia há décadas uma crescente e generalizada carência de lideranças genuínas, em todas as expressões do poder nacional, seja na seara política, militar, psicossocial, econômica, ciência e tecnologia, etc.
Esse fenômeno não acontece no país por acaso e decorre da degenerescência generalizada da sociedade brasileira, progressivamente mais dissociada dos sólidos valores familiares, cívicos e ético-morais que são edificantes das nações prósperas e soberanas, por meio da educação de suas crianças sob a égide desses valores, proporcionando assim a construção da personalidade dos verdadeiros líderes, que florescerão naturalmente do seio dessa juventude.
Significa que o surgimento de líderes está condicionado intrinsecamente à qualidade do seu meio social de origem. De tal sorte que quanto melhores e mais fortes forem as sociedades, consequentemente mais lideranças genuínas florescerão de sua juventude; e quanto mais medíocres e fracas forem essas mesmas sociedades, ocorrerá o inverso.
Portanto, resta evidente que o Brasil caminha a passos largos no pior cenário das lideranças autênticas e, pelo menos em médio prazo, nada sinaliza que isso será revertido.
Contudo, outra consideração quanto à identificação de lideranças no contexto de Inteligência Operacional é de especial relevância na atual conjuntura brasileira: o sigilo do líder. Porque os legítimos e genuínos líderes não lideram apenas por liderar. Eles avaliam precisamente as circunstâncias conjunturais mais favoráveis ou desfavoráveis para o exercício ou não de suas lideranças. E no segundo caso optarão por manter suas respectivas capacidades de liderança em sigilo, disfarçando-se entre os medíocres.
Isso porque conjunturas de crise político-social e de corrupção generalizada, como ocorrem atualmente no Brasil, ao contrário do que se imagina, são péssimas circunstâncias para a revelação de lideranças autênticas. Estas são circunstâncias ideais e terreno fértil apenas para o surgimento dos oportunistas de plantão e “salvadores da pátria”.
Contudo, há uma “regra de ouro” universal e infalível para a detecção de lideranças genuínas, aplicável em qualquer situação ou circunstância, que se constitui no mais importante princípio de liderança: Dar o Exemplo.
Porque os verdadeiros líderes não lideram por meio da retórica persuasiva e enganosa. Mas exclusivamente pela força do exemplo pessoal, em absolutamente tudo o que fazem. É por isso que a principal máxima da liderança professa:
“As palavras convencem, mas o Exemplo arrasta”.
Portanto, para se detectar líderes genuínos, basta se identificar as raríssimas pessoas que dão seu exemplo pessoal, em absolutamente tudo.


Como transformar e peneirar informações úteis e transformá-las em inteligência?

Esse é o epicentro da mais grave questão relacionada às falhas e deficiências dos serviços de inteligência na produção de suas informações em todo o mundo, cuja temática na Inteligência de Estado no Brasil é denominada “Técnica de Avaliação de Dados (TAD)”. Dedicando-me notadamente a esse assunto há mais de 20 anos, atesto seguramente que a questão da TAD na inteligência nacional é absolutamente caótica, pela total falta de credibilidade de suas informações e conhecimentos.
Especialmente na ABIN, que inclusive realizou um projeto secreto para solucionar essa sua escabrosa deficiência, o qual fracassou vergonhosamente e por total incompetência dos dirigentes da agência, após vários anos e milhões de reais de verba secreta empenhada. Por essa razão, a cúpula da ABIN “desaconteceu” esse projeto secreto da TAD, sepultando-o e destruindo todos os seus rastros.
O motivo pelo qual eu sei dessa história secreta é porque, depois que esse projeto sigiloso da TAD fracassou e foi completamente “desacontecido”pela ABIN, por eu ser a maior autoridade nacional sobre o assunto, recorreram a mim para tentar salvá-lo, conforme revelei em meu livro “Ex-agente abre a caixa-preta da ABIN”. Portanto, essa é uma questão de natureza técnico-científico-operacional extremamente complexa, que se constitui no ponto principal relativo à falta de credibilidade das informações dos serviços secretos; que, no Brasil, é absolutamente impossível de ser solucionada pela ABIN.
A boa notícia aos brasileiros é que há mais de 20 anos existe solução pioneira no Brasil para a problemática da TAD nos serviços secretos, cujo projeto técnico-científico-operacional foi oficialmente protocolado, e por diversas vezes, junto à cúpula da ABIN/SISBIN, conforme revelei em meu livro “Ex-agente abre a caixa-preta da ABIN”.
A má notícia ao país é que esse projeto, por ser de minha autoria e revelar tecnicamente todas as gravíssimas heresias, falhas e erros absurdos da produção de informações e conhecimentos da ABIN/SISBIN, foi obviamente “desacontecido” por sua cúpula, para a consagração de sua hegemonia disfuncional e do colapso da Inteligência de Estado no Brasil.




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