Artigo de André Soares 23/05/2017
Embora a maioria desconheça, estamos vivendo na atualidade a "crise do século XXI", ou "mal do século",que é a pandemia de doenças e transtornos mentais, cuja projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê se tornar até 2030 a patologia mais prevalente no planeta, a frente do câncer e algumas doenças infecciosas. Estresse, ansiedade, fobias, bipolaridade, depressão, assédio moral, “bullying”, síndrome do pânico, dentre outros, fazem parte do inevitável coquetel de problemas psicológicos da vida moderna, que estão lotando os consultórios psicológicos e psiquiátricos, cada vez mais repletos de homens, mulheres e crianças fragilizados e doentes da psique. Em termos práticos, significa que se ainda há quem não tenha sido acometido por pelo menos alguma dessas doenças, no futuro próximo certamente será.
Assim, a pergunta crucial é: “Por que a humanidade está adoecendo gravemente psíquica e espiritualmente?”. Resposta: Por causa do exponencial desenvolvimento científico-tecnológico. Portanto, vivemos os males de um terrível paradoxo: o desenvolvimento científico-tecnológico, que tantos benefícios vêm trazendo à humanidade, é também a principal causa do "mal do século”. E, agora, vem o mais assustador: quanto maior for o desenvolvimento científico-tecnológico pior será essa pandemia. Em síntese, significa que o "mal do século" pode destruir a humanidade.
Tudo isso pode parecer um enorme absurdo, ou uma piada de mau gosto; e seria ótimo que fosse. Mas, não é. Assim, para sobrevivermos à "crise do século XXI", precisamos inicialmente compreender esse fenômeno patológico, para posteriormente sabermos enfrentá-lo. Para conhecer a sua gênese é necessário relembrar os ensinamentos de Charles Darwin, cuja “Teoria Evolucionista” demonstra sobejamente que a “evolução das espécies” contempla exclusivamente os indivíduos mais fortes e melhor adaptados às ameaças e adversidades do seu meio ambiente.
E, nesse sentido, ao longo da história, a humanidade vem fazendo exatamente o contrário da “Teoria Evolucionista”. Explica-se: o extraordinário e crescente desenvolvimento científico-tecnológico vem evidentemente beneficiando a vida humana, em todos os sentidos. Consequentemente, as pessoas vão ficando cada vez mais protegidas contra as adversidades e ameaças da vida, ao mesmo tempo em que também vão ficando cada vez mais seduzidas e dominadas pelas irresistíveis facilidades e comodidades da vida tecnológica. Afinal, a vida humana vai ficando cada vez mais fácil a cada dia, não é mesmo?
Por outro lado, é exatamente a crescente eliminação ou minimização de adversidades e ameaças à vida humana que, em contrapartida, faz com que as pessoas fiquem gradativamente cada vez mais fracas e despreparadas, justamente porque, na ausência de contingências, o indivíduo não se fortalece. Ou seja, a acomodação às benesses do desenvolvimento científico-tecnológico está “atrofiando” a humanidade, não apenas no corpo, mas principalmente na mente e espírito.
Um surpreendente exemplo desse terrível paradoxo é a longevidade humana na atualidade, cuja expectativa de vida aproxima-se rapidamente dos 80 anos no Brasil, valendo lembrar que na pré-história os hominídeos viviam cerca de 30 anos. Ressalta-se que os hominídeos eram muito mais fortes que homem atual, não apenas fisicamente, mas também bio-fisiologicamente. Isso porque o expressivo aumento da expectativa de vida, diferentemente do que se imagina, não se deveu ao fortalecimento da bio-fisiologia humana que, ao contrário, se enfraqueceu. Mas, sim, ao vultoso desenvolvimento científico-tecnológico, notadamente da medicina, cujos recursos, técnicas cirúrgicas e principalmente medicamentos vêm possibilitando o prolongamento da vida humana, de forma eminentemente artificial. Portanto, sem os recursos da medicina e em condições idênticas de sobrevivência, a expectativa de vida do homem atual seria inferior a dos hominídeos.
O fato é que a humanidade está vivendo artificialmente cada vez mais, mas não necessariamente melhor, no que se refere à psique. E o “mal do século” é a prova cabal disso, demonstrando que o enfraquecimento progressivo do ser humano o está conduzindo ao sofrimento psíquico por tudo e por qualquer coisa, aterrorizando-se por questões cada vez mais irrelevantes, fúteis e até mesmo ridículas.
E o “mal do século” tem cura?
_É claro que tem!
Qual é?
_Ser forte, cada vez mais forte.
E como se fica forte?
_Combatendo adversidades e ameaças. E quanto mais fortes forem as adversidades e ameaças vencidas, mais forte se fica.
Mas o combate gera estresse, dor e sofrimento.
_Mas é somente assim que se fica forte. Afinal, quem disse que ser forte é fácil?
Mas o combate pode matar!
_Exatamente. Mas, como demonstrou Charles Darwin, só os fortes sobrevivem.
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